Lições do dinamarquês


Em meados de agosto uma missão de técnicos, ambientalistas, empresários, representantes de entidades do trade turístico e dos movimentos sociais em favor de Florianópolis, liderada pelo empresário Valério Gomes, o arquiteto Giovanni Bonetti e por mim, foi a Copenhague, na Dinamarca, com o objetivo de trazer para cá o conceito de “cidade para as pessoas” – o mais avançado ambiental e urbanisticamente no planeta – cujo “pai” é o arquiteto dinamarquês Jan Gehl.

Apesar do curto espaço tempo, aprendemos muito com Gehl, não só na sua brilhante palestra, mas também andando a pé e de bicicleta pela cidade, hoje considerada a mais feliz do mundo. Para chegar a esse patamar, Copenhague, que estava quebrada em 1980, rompeu paradigmas, mudou conceitos da sua própria população e estabeleceu prioridades sob a batuta do maestro Gehl.

Voltamos entusiasmados da Dinamarca, mas fomos recebidos com uma ducha de água fria, despejada via imprensa e redes sociais. A tônica das críticas: por que ir buscar um arquiteto – na verdade, “o” arquiteto, considerado um dos dois melhores do planeta – na Dinamarca se temos tantos bons profissionais aqui? É verdade, temos mesmo e não vou nominar os que me vêm à cabeça, para não ser injusto com os excelentes arquitetos catarinenses. No entanto, eles próprios aprenderam na escola: quando um arquiteto é excepcional, dá lições ao mundo – basta lembrar de Oscar Niemeyer e Le Corbusier, que deixaram obras, hoje patrimônios da humanidade, espalhadas pelo planeta.

Como já estamos acostumados – os integrantes da missão e eu – a esse tipo de crítica, absorvemos o choque, sem nunca perder a meta, tenacidade essa que vem da nossa “casca grossa” depois de lutar durante décadas pelo turismo. Pois eis que então na edição de 13 de novembro a Folha de S. Paulo traz um artigo do articulista da página 2 Alvaro Costa e Silva, sob o título de “As lições do dinamarquês”. Diz ele que está em cartaz no Centro Carioca de Design a exposição “Jan Gehl: a Vida nas Cidades” e que o protagonista, de 82 anos, “defende um conceito básico: ‘Menos carros, mais gente’”.

O jornalista conta ainda que Gehl conseguiu reduzir o tráfego de veículos na Times Square, em Nova York, e expandir os espaços públicos em Melbourne, Austrália. Em entrevista, Gehl criticou a invasão de carros em cidades como São Paulo e Rio. Afirmou: “É preciso dar boas condições para se caminhar, andar de bicicleta e usar o transporte público. Isto é o mais simples e barato que você pode fazer em qualquer cidade do mundo”.

No artigo, Costa e Silva sugere que o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, “dê uma passadinha” para ver a exposição e, quem sabe, mudar seus conceitos. Veja só. Nós tivemos a oportunidade de estar frente a frente com Gehl e receber um sinal de que poderia olhar por Florianópolis e Santa Catarina. Se acontecer, que sejamos humildes para aprender e valorizar as lições do dinamarquês.

Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo 3-7-15

Vinicius Lummertz – Ministro do Turismo

 

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Categoria(s) Geral, Planejamento Urbano