Floripa, por uma “cidade de quinze minutos”


Artigo de Cássio Taniguchi
Urbanista, ex-prefeito de Curitiba

A recente pesquisa feita pelo Instituto MAPA e divulgada recentemente pelo Floripa Sustentável mostra a percepção dos entrevistados em relação a “Florianópolis aos olhos da população hoje e no futuro”. São elementos importantes para que os gestores públicos fiquem atentos para as principais demandas da população e que possam orientar suas prioridades de ação convergentes, na medida do possível, com os resultados da pesquisa.

Nosso tema versa sobre o Planejamento Urbano no que toca a Mobilidade das pessoas dentro da cidade. A percepção dos seus habitantes é de que se houvesse um bom sistema de transporte público, em que o deslocamento dos passageiros se desse com rapidez, segurança, conforto, integração modal e tarifas integradas e acessíveis a todas as faixas de renda, 94% das pessoas pesquisadas passariam a utilizar o transporte coletivo.

Faltou pesquisar o que acontece na Região Metropolitana da Grande Florianópolis – hoje com mais de um milhão de habitantes – em que grande parte deles se desloca em direção à Capital em um movimento pendular pela manhã e à noite. Isso acontece pois 60% dos empregos da RM estão concentrados na Ilha, em especial em seu núcleo central. Esse movimento está se intensificando dentro da própria Ilha a partir dos bairros localizados ao Sul e ao Norte. Esses deslocamentos se dão por meios motorizados (automóveis e motos) na proporção de 50% (no Brasil a média é de 27%) e os tempos de viagem são longos – às vezes mais de 2 horas por sentido – por conta dos enormes congestionamentos diários nas principais vias de acesso e da pouca racionalidade da rede de transporte metropolitano que não atende à demanda dos passageiros.

Florianópolis é uma das poucas capitais de estado que ainda não contam com pistas exclusivas que proporcionem prioridade ao tráfego de ônibus. Seus habitantes ainda veneram o automóvel – por falta de uma opção competitiva, além do “status” – e muitos ainda acham que a solução está na ampliação e construção de novas pistas para o automóvel (86% dos entrevistados).

Nas cidades do mundo inteiro o automóvel já é considerado uma espécie de vilão – pela poluição ambiental e pelos acidentes, muitas vezes fatais. No seu lugar, preferem modais ativos, como andar a pé, ou de bicicletas, patinetes, skates, patins – porém para que isso ocorra em nossa cidade será necessário construir calçadas e ciclovias com toda a infraestrutura adequada. Melhor do que optar por implantar novas rodovias, viadutos, pontes, túneis para servir ao automóvel, a um custo muitas vezes maior!

Além disso, novas centralidades (bairros) equipadas com usos mistos que atendam às demandas da maior parte de seus habitantes sem a necessidade de recorrer ao centro da cidade para se abastecer de bens e serviços, poderiam facilitar a vida do cidadão e depender um pouco menos do transporte individual ou coletivo. Esse conceito foi adotado durante a pandemia em Paris, com a ideia da “cidade 15 minutos”, onde as necessidades básicas dos moradores poderiam ser atendidas por deslocamentos a pé ou de bicicleta, dentro da própria vizinhança e que, como corolário, ainda estimulavam e fortaleciam as atividades econômicas locais.

Nas discussões da revisão do Plano Diretor da cidade, esse conceito foi amplamente debatido e aceito pela grande maioria dos participantes nas 14 audiências públicas recentemente realizadas sob a coordenação da Prefeitura Municipal de Florianópolis, além de convalidada pelo Conselho da Cidade, discutida e aprovada pelos órgãos técnicos da Municipalidade e, finalmente, enviada à apreciação da Câmara de Vereadores.

(ND, 19/11/2022)

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Categoria(s) Geral, Mobilidade Urbana