Ambulantes, o desafio
Numa temporada que chega cheia de desafios recorrentes, como a mobilidade, a balneabilidade das praias e, ao que tudo indica, a ausência dos argentinos que injetam uma fatia considerável de recursos na nossa economia, existe um desafio que de há muito poderia ter sido superado.
Trata-se da questão dos ambulantes clandestinos que, infelizmente, nos últimos finais de semana de sol e no feriadão, voltaram a invadir nossas praias – num prenúncio muito sombrio do que pode acontecer na temporada.
Obviamente que é preciso dar um voto de confiança para a Prefeitura e demais órgãos envolvidos na fiscalização e na repressão dessa atividade ilegal e perniciosa – afinal, foi ainda na sexta-feira, dia 22, que a primeira turma de ambulantes credenciados recebeu a documentação e outros materiais. Assim, espera-se que a partir de agora o jogo da fiscalização e da repressão comece para valer.
Apesar desse voto de confiança – que, aliás, também foi dado em temporadas anteriores, sem o devido retorno – temos que deixar patente, de forma incisiva e assertiva, de que é necessário mais trabalho conjunto, mais estratégia/inteligência e também mais vigor no combate a atividades que abrigam crime, ilegalidade e contravenção.
A exemplo do que ocorre na bem-sucedida Operação Lei Seca (tanto nas estradas federais como nas estaduais), o que a sociedade espera dos órgãos municipais, estaduais e federais é que trabalhem com afinco e harmonicamente no combate ao comércio clandestino.
Até as pedras da Joaquina sabem o horário (entre 8 e 10 da manhã) que os ambulantes chegam às praias. Ora, assim como na Lei Seca as operações se dão “depois da balada”, é neste momento que se deve separar o joio do trigo, ou seja, os credenciados dos clandestinos. Depois que todos entram na areia é muito difícil fazer a fiscalização.
Outra ação que parece óbvia é com relação à orientação dos ambulantes credenciados. Eles precisam compreender que os clandestinos prejudicam o trabalho e a imagem deles – e, na era dos aplicativos, espera-se que sejam orientados a utilizar essa ferramenta para denunciar a concorrência ilegal.
Com relação às centenas e centenas de vendedores de roupas, a grande maioria deles vinda de outros estados e do exterior, é um caso de polícia (federal, inclusive).
De onde vem essa mercadoria? Onde fica estocada? Quais as condições de trabalho a que estão submetidos esses vendedores clandestinos? Não é de hoje que as pedras da Joaquina sabem também que se trata de máfias, que têm por trás chefões endinheirados e capatazes que tratam os pobres ambulantes como gado.
Enfim, se temos menores chances – pelo menos a curto prazo – de resolver questões como a da mobilidade urbana, Florianópolis tem uma grande oportunidade nesta temporada de acabar de uma vez por todas com essa situação dramática, que desafia a cada um de nós.
(ND, 28/11/2019)